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Tecnologia e resiliência da rede elétrica

Publicado em 11 de março de 2024

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Está fora de discussão a importância da tecnologia na vida moderna e, em especial, no setor elétrico. Como bem pontuou o professor Edvaldo Santana, ex-diretor da Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica, em recente post publicado na semana passada no LinkedIn, "o setor elétrico, em todo mundo, tem uma característica: a tecnologia é a linha de frente".

Mas, para uma melhor percepção geral, sempre acrescenta evidenciar tal importância com casos concretos.

Para esse efeito, tome-se, por exemplo, episódio que ocorreu há cerca de três anos: um transformador de grande porte de uma importante subestação do Sul do país, subestação que controla uma carga de 2.000 MW, mais ou menos 2% da carga de todo o sistema interligado e equivalente ao consumo de mais de cinco milhões de residências, deu sinais de que apresentaria problemas.

Tecnologia hoje disponível permite identificar, sem retirar o equipamento de operação, eventual aumento expressivo das atividades acústicas que caracterizam a ocorrência de descargas parciais nos sistemas isolantes internos do transformador, um sintoma da fragilidade de seu estado operativo. Permite, ainda, indicar a localização aproximada do defeito incipiente, o que viabiliza a atuação tempestiva da empresa proprietária do equipamento, eventualmente substituindo-o. Se não detectado, o defeito poderá provocar avaria no equipamento e, mais grave, a interrupção no suprimento de energia.

A interrupção no fornecimento decorrente de falhas desse tipo pode ter amplas repercussões. Até porque, nessas situações, não é incomum ocorrer eventual sobrecarga em outros equipamentos da rede. Basta lembrar o que ocorreu no Amapá no final de 2020, ainda que se considere que, nesse episódio, as consequências tenham sido potencializadas por não se dispor imediatamente de equipamentos reservas e pela característica radial do sistema local.

No caso do transformador ao qual me referi no início deste texto, o equipamento deu um “aviso”. Mas, não raro, isto não acontece. O que fazer então? A tecnologia traz a resposta.

Hoje, há disponíveis no mercado soluções que podem ser aplicadas a qualquer equipamento de alta tensão que possua sistema de isolamento, como os transformadores citados, tanto o do Sul quanto o do Amapá, como estratégia para antecipar essas situações. Tais sistemas permitem antever falhas prematuras ou inesperadas. E é possível fazer isso, a gestão desses ativos, sem retirar o equipamento de operação!

Em artigo que publiquei n’O Globo há pouco mais de três anos[1], já pontuava que “em uma visão em perspectiva, é recomendável instalar um sistema de gestão de ativos inovador, que possibilite verificar as condições internas dos equipamentos e ofereça informações fundamentais para a previsão de possíveis falhas em operação, criando, desse modo, condições para ações preventivas”. Para iniciar um programa como esse, o ONS poderia indicar as prioridades, os pontos críticos do sistema. E a Aneel regularia a instalação. Como resultado, o sistema elétrico como um todo fica mais seguro. E com o benefício adicional de potencial redução nos custos de manutenção.

Uma medida que traria benefícios para o sistema elétrico e para seus milhões de consumidores!

[1] Artigo publicado na versão online d’O Globo, em 11 de novembro de 2020, sob o título “Para que não haja novos blecautes”.

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