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Reflexões sobre a transição energética

Publicado em 8 de maio de 2024

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Muito se fala sobre transição energética e sobre a urgência de ações na direção de uma economia de baixo carbono. A todo momento, tragédias como a do Rio Grande do Sul trazem à reflexão o tema e sobretudo a inação da Humanidade diante dos efeitos das mudanças climáticas.

Em linha com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS 7), um dos 17 estabelecidos pela Assembleia Geral da ONU em 2015, deve-se buscar “garantir que a energia seja acessível, confiável, sustentável e moderna para todos”.

Temos aqui o primeiro ponto: acesso à energia. De acordo com o “Tracking SDG 7: The Energy Progress Report 2023”, uma elaboração conjunta do Banco Mundial, AIE e IRENA, há 675 milhões de pessoas, ou quase 10% da população mundial que não têm acesso à energia elétrica.

Outros dados dessas instituições revelam uma desigualdade brutal entre os que têm acesso. Mais de 80% da população consomem anualmente em média 3.200 kWh per capita, enquanto os outros 20% (países da OCDE) consomem 170% mais (8.700 kWh/ano/hab).

O acesso da energia para todos e a elevação do consumo da população dos países não-OCDE para a média mundial (4.200 kWh/ano/hab) importaria no aumento de 30% do consumo global de energia elétrica.

Conclui-se que é inexorável o crescimento do consumo de energia elétrica.

Há três elementos básicos que caracterizam as tendências observadas no mundo moderno: eletrificação das economias, prioridade para fontes renováveis e abertura do mercado, consolidando espaço para serem atendidas as preferências dos consumidores.

A reunião do panorama descrito com essas tendências traz preocupações relevantes, que podem ser sintetizadas em três questões básicas: Há fontes de energia suficientes? Há soluções tecnológicas que podem garantir preços de energia acessíveis? É possível garantir a confiabilidade e a resiliência dos sistemas elétricos?

A boa notícia é que a resposta é afirmativa para todas as três questões. E entre as soluções que estão hoje na agenda podemos destacar:

  • Virtual power plants (VPP), que podem ser chamadas de “internet da energia”. VPPs permitirão o uso do sistema para personalizar serviços de oferta e demanda de energia elétrica para os consumidores. No Brasil, essa tendência estará tão mais atrasada quanto mais atrasada for a abertura do mercado.

  • Sistemas de armazenamento de energia, que, conforme discuti em publicação anterior, configuram uma oportunidade para usinas reversíveis. No Brasil, há condições geoeconômicas muito favoráveis para implantação em larga escala desse tipo de solução, mas avanços regulatórios são demandados.

  • Geração despachável, em que despontam os Small Modular Reactors (SMR), reatores nucleares que reduzem a construção no local, aumentam a eficiência de contenção e, intrinsecamente, aumentam a segurança. A COP-28 reconheceu “o papel fundamental da energia nuclear para atingir a meta zero líquido global" e incluiu compromisso específico com “pequenos reatores modulares e outros reatores avançados”. Para além da evolução da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico dessa solução, é necessário considerar, no Brasil, novos modelos de negócio e arranjos institucionais, que viabilizem o concurso da iniciativa privada.

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